Ofélia
Ofélia
OFÉLIA é um espetáculo de Dança-Teatro, interpretado por um grupo de mulheres residentes no concelho de Castelo Branco e por uma performer profissional, que tem no conceito de VIOLÊNCIA a base de reflexão e o estímulo criador.
Sendo este um projeto de criação artística comunitária que envolveu todo um processo de pesquisa performativa em coletivo, partilhamos um excerto de um texto escrito por uma das participantes* que reflete profundamente sobre o espetáculo OFÉLIA:
A questão da violência tem-me levado a pensar, ao longo destes meses de processo, nas histórias que convosco tenho partilhado. Levadas para a cena, estas histórias refletem-se num jogo de relações (não imediatamente evidentes) entre criadoras/intérpretes: a viagem sobre a história da humanidade e a história mais íntima do ciclo de vida de uma pessoa (o jogo interativo das emoções). Através deste percurso, revemos o nosso passado, a nossa infância, a infância da própria humanidade e os mais banais gestos de amore ódio.
Os pormenores, cada desarranjo minucioso do corpo, cada toque, a precisão de cada ação expressa no movimento atraído pela queda, faz com que o corpo pese muito, mais ainda que o habitual. Este é um corpo que transporta o peso do mundo, é um corpo que vive plenamente no interior a sua história, que não acaba em si.
*Lurdes Pina
FICHA ARTÍSTICA:
DIRECÇÃO ARTÍSTICA Maria Belo Costa
CONSULTORIA ARTÍSTICA Sílvia Pinto Ferreira
PERFORMERS/CO-CRIAÇÃO Ana Luísa Teixeira, Ana Sofia Baptista, Lurdes
Pina, Maria Belo Costa, Paula Antunes, Raquel Fradique, Sandra Toscano, Verónica
Rodrigues
DESENHO DE LUZ E SONOPLASTIA pedro fonseca/colectivo, ac.
DESIGN GRÁFICO E FOTOGRAFIA Helder Milhano
FIGURINOS Joana Carvalho / Jomanik
PRODUÇÃO Pé de Pano-Projectos Culturais
PARCERIA Centro Artístico Albicastrense
APOIOS Quarta Parede Associação de Astes Performativas da Covilhã, ASTA
Associação de Teatro e Outras Artes, Instituto Politécnico de Castelo Branco,
Financiamento: Cultura Vibra / Câmara Municipal de Castelo Branco
O espetáculo OFÉLIA dá continuidade à criação anterior da Pé de Pano, MEDO DE SER MATÉRIA de Peter Michael Dietz e Maria Belo Costa, um espetáculo sobre o Medo em relação com a construção do Ser. O Medo está absolutamente disseminado na nossa sociedade e a Violência, uma sua aliada, muitas vezes dissimulada, invade-nos de forma brutal e massificada, toma múltiplas formas e infiltra-se em diferentes meios, políticos, sociais familiares e profissionais. A violência não é, não pode ser do foro do privado, não atinge apenas pessoas e lugares distantes aos quais acedemos através dos média. O exercício, consequências, agentes e vítimas da Violência - física ou psicológica, visível ou invisível - é um assunto que diz respeito a todos e a todas. Interessa a todas as pessoas estar atentas e ser conscientes, uma vez que somos duplamente alvos e instrumentos de Violência. Este espetáculo tem esse intuito, levantar questões que abordam o público e o privado, o interior e o exterior, a pessoa e a comunidade, o nosso país e o mundo.
OFÉLIA resultou de um laboratório de dança-teatro, que teve início em Maio de 2015 e terminou nos dias 09, 10 e 11 de Outubro de 2015 com 3 apresentações do espetáculo no CEntro Artístico Albicastrense. Ao longo de todo este processo propusemos, experimentámos, selecionámos, analisámos e sintetizámos no sentido da construção de uma linguagem performativa e de um pensamento muito próprio sobre a Violência. Incidimos particularmente sobre as suas ações e efeitos sobre o físico e o psicológico e como é que estes se traduzem numa linguagem artística performativa.
O facto de o espetáculo OFÉLIA ser intencionalmente protagonizado apenas por Mulheres prende-se a dois propósitos intimamente aliados, um político-social e o outro artístico. O primeiro porque, em pleno século XXI, são as mulheres de diferentes etnias, classes, idades e nacionalidades, o grupo social mais afetado por situações de violência física e/ou psicológica. O segundo, porque, constituindo este projeto uma continuidade do espetáculo MEDO DESER MATÉRIA, ele parte do desejo da sua cocriadora e performer partilhar raciocínios, pesquisas e materiais criativos especificamente com mulheres que, como ela, se inquietem com as problemáticas político-sociais que influenciam estes objetos artísticos.
Mas porque este problema não é exclusivo das mulheres e atinge igualmente os homens, partimos das perspetivas deste grupo específico de mulheres admitindo que elas são testemunhas significantes das vidas dos seus pais, filhos, maridos, companheiros e amigos e, neste sentido, transportam em si visões sobre a violência que, mais do que pessoais, dizem respeito a toda a sociedade. Neste ponto, evocamos a tragédia grega As Troianas de Eurípedes, que tomamos como inspiração, cujo enredo, a queda de Troia, é contado, principalmente, pelas palavras das mulheres, poupadas da morte para serem tornadas escravas.