Aqui Tudo Vem Dar

 

Aqui tudo vinha a dar! Isto era um corrupio! As ruas não tomavam erva! Isto aqui era um mundo... Uí! Um mundo mesmo!

Já me lembra aqui de 30 fábricas a trabalhar ao mesmo tempo! Vocês não estão a ver o que isto era!

 

Aqui tudo vem dar é uma aproximação a uma realidade palpável e invisível ao mesmo tempo.

Aceitámos o desafio de trabalhar nos Cebolais e no Retaxo, porque tínhamos presentes dois relatos muito vivos de dois moradores que nos são próximos. Estes relatos transbordavam um carinho imenso por estas aldeias e um surpreendente sentido de pertença ao sítio onde vivem. Era o cheiro, era o som, era a vida que enchia as ruas, as pessoas que vinham de outros lugares, os edifícios industriais por todo o lado - as fábricas que davam trabalho a tanta, tanta gente - e um modo de vida muito particular. Era a indústria têxtil a marcar para sempre a paisagem, as aldeias e as pessoas, novas e velhas.

 

Atraiu-nos  também a existência de um espaço como o MUTEX, um espaço de transformação que cuida da memória e, ao mesmo tempo, aponta caminhos em direcção ao futuro.

 

Assim, com estas sementes entre mãos para fazer crescer, iniciámos um trabalho artístico de aproximação a estes lugares.

 

Envolvemos nesta proposta os participantes do Laboratório de Formação e Criação Artística com quem vimos a desenvolver vários projectos no âmbito da actividade da Pé de Pano.

 

Cada um deles conversou com um morador dos Cebolais ou do Retaxo com uma ligação à indústria têxtil. Queríamos conhecer os lugares e a sua história de uma forma próxima e sensível, na presença das palavras, do olhar e dos gestos únicos e preciosos que cada habitante transporta em si.

 

Foi destes encontros que nasceu esta nossa leitura, atravessada pelos testemunhos das pessoas, num jogo muito estreito com a dimensão espacial e com as matérias têxteis. 

 

Sabemos que muito mais pessoas há para ouvir, muito mais para conhecer. Sabemos que assim que começamos a desfiar as histórias do que era, do que foi a vida em Cebolais e no Retaxo, os olhos movimentam-se entre a tristeza e a alegria, entre a saudade e o carinho e a respiração de cada um altera-se.

O que fazemos é uma aproximação muito sincera que oferecemos a todos, na certeza de que tudo o que nestas aldeias existe tem em si um potencial enorme que pode continuar a ser transformado e a crescer.

Obrigada a todos e a todas que nos acolheram e nos permitiram concretizar Aqui tudo vem dar.

 

Este projecto foi desenvolvido no âmbito da 2ª edição  do Castelo de Artes – Encontros de Castelo Branco, promovido pela Câmara Municipal de Castelo Branco.

 

 

Interpretação Ana Sofia Baptista, Ana Teixeira, Christine Gregório, Joana Brito, Maria Belo Costa, Paula Antunes, Sandra Beringuilho, Sílvia Pinto Ferreira, Rita Boavida e Rosa Silva.
Direção Artística Maria Belo Costa
Assistência e Dramaturgia Sílvia Pinto Ferreira
Paisagem Sonora Defski

Fotografia de Cartaz Ana Sofia Baptista

Fotografia e Vídeo Paulo Vinhas

 

Agradecimentos: Fátima Mendes, Lurdes Pina, Luiz de Paula, MUTEX: Marta Roque, Francisco Fontes, João Pedro Belo e João Pedro Gonçalves D. Amélia Belo, Sr. Aníbal Tomás, Sr. Carlos Baltazar, D. Ermelinda Fernandes, Sr. Gilberto Salavessa, D. Isolina Marques, D. Margarida Duarte, Sr. Silvino Carmona.